Não compreendo
“Enquanto as
pessoas se apertam dentro do ônibus e fecham a cara, comprimindo a ansiedade e
a fome, o mundo vai morrendo aos poucos. A lavadeira continua a chorar no canto
do rio, no canto do quarto, no canto do céu, no canto. O mendigo está na rua
suplicando às plantas um pouco menos de loucura e ao sol um pouco menos de
culpa pela pobreza. O cobrador me olha como se pedisse socorro por causa do
suor e dos filhos que o esqueceram na vida, como se ela o quisesse. Quem dera!
Quem dera que as estrelas caíssem aqui no abismo para me fazer companhia, que
me olhassem e resgatassem-me de toda angústia, que cantassem a felicidade
certa. Quem dera o amor fosse mais sentido e menos gritado, como numa dor de
parto, onde se grita e descansa. Quem dera o amor fosse uma cura ou um remédio
ou um poema aos meus ouvidos. As pessoas estão tão abaladas que ecoam de seus
rostos a incapacidade de viver. E o amor não nos chegou. Continuarei não
entendendo o cobrador, o mendigo, o mundo…”
—
|
Igor Pires.
|
0 comentários:
Postar um comentário
LEIA AS REGRAS:
Todos os comentários são lidos e moderados previamente. São publicados aqueles que respeitam as regras abaixo:
- Não serão permitidos comentários (anônimos) somente com identificação.
- Seu comentário precisa ter relação com o assunto do post;
- Em hipótese alguma faça propaganda de outros blogs ou sites;
- Não inclua links desnecessários no conteúdo do seu comentário;