sábado, março 02, 2013

Não compreendo




Enquanto as pessoas se apertam dentro do ônibus e fecham a cara, comprimindo a ansiedade e a fome, o mundo vai morrendo aos poucos. A lavadeira continua a chorar no canto do rio, no canto do quarto, no canto do céu, no canto. O mendigo está na rua suplicando às plantas um pouco menos de loucura e ao sol um pouco menos de culpa pela pobreza. O cobrador me olha como se pedisse socorro por causa do suor e dos filhos que o esqueceram na vida, como se ela o quisesse. Quem dera! Quem dera que as estrelas caíssem aqui no abismo para me fazer companhia, que me olhassem e resgatassem-me de toda angústia, que cantassem a felicidade certa. Quem dera o amor fosse mais sentido e menos gritado, como numa dor de parto, onde se grita e descansa. Quem dera o amor fosse uma cura ou um remédio ou um poema aos meus ouvidos. As pessoas estão tão abaladas que ecoam de seus rostos a incapacidade de viver. E o amor não nos chegou. Continuarei não entendendo o cobrador, o mendigo, o mundo…
Igor Pires.  

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